Em 2008, no primeiro ano da faculdade de jornalismo, tive a oportunidade de fazer um trabalho sobre o chamado “jornalismo social”, aquele voltado às causas humanitárias, que joga um olhar sobre problemas como pobreza, violência e injustiça social. Na ocasião entrevistamos por email o jornalista Mauri König, referência em fazer reportagens voltadas às mazelas que atingem camadas mais desfavorecidas. As perguntas eram as mais básicas possíveis, já as respostas, no entanto, serviram não somente para a produção do trabalho, mas também como combustível capaz de acender uma chama interna em alguém que ainda não sabia nada sobre a profissão. Meses depois König palestrou na faculdade e contou sobre seu trabalho no campo investigativo e a importância que uma reportagem pode ter quando a intenção da narrativa é expor problemas sociais e cobrar providências de quem, teoricamente, tem a responsabilidade de toma-las. E, não sei porque cargas d’ água, essa empolgação tão comum no começo de tudo, teima em permanecer viva e inquieta oito anos depois.
Depois de formado (mesmo antes disso) descobri que o mercado de trabalho não leva em consideração ideais de vida e coisas do tipo. Nessa época também já havia me encantado pelo jornalismo literário, aquele que usa recursos da literatura como descrição e narração para construir o texto. Mas como trabalhar com jornalismo, fazendo matérias aprofundadas, ao estilo jornalismo literário, sem deixar a chama do jornalismo social se apagar? Eu tinha duas opções: Ser alguém brilhante como o König ou criar um site jornalístico onde eu pudesse enfim tentar aprender a fazer essa arte. Optei pela segunda, é claro. O primeiro a ter contato com a ideia foi o também jornalista Paulo Siqueira, que de pronto topou a parada. O segundo foi o Everton Mossato, meu chapa de longa data e parceiro de diversos projetos jornalísticos. Nos reunimos e começamos a pensar em outras pessoas para encarar essa empreitada. Vieram então os jornalistas Guilherme de Paula Pires, Mario Junior e Yuri Vasselai. Além deles convidamos algumas pessoas interessantes para serem colunistas e os primeiros nomes que surgiram foram os dos professores Rafael Pires de Mello e Jaqueline Marcelino, além deles, no “staff sonhador” estava também Anita Babinski, amiga de todas as horas e companheira de Mossato.
Depois de alguns encontros em bares, muitas cervejas, anedotas e planos mirabolantes, demos nome ao filho. “Parágrafo 2” se chamaria a criança. Infelizmente, do time inicial Paulo, Guilherme e Yuri não puderam mais continuar. Os demais continuaram e o site enfim foi ao ar no final de junho de 2015.
Conteúdo além do óbvio
Criar o Parágrafo 2 para que ele fosse “mais do mesmo” e repercutisse apenas os fatos mais relevantes do dia, não faria sentido. Portanto, tentamos construir um site que trouxesse ao leitor algo diferente, que provavelmente não seria noticiado em grandes veículos de comunicação. É certo que ainda engatinhamos na arte de fazer jornalismo e que estamos longe de atingir nosso objetivo de grandes reportagens, mas há no site muito conteúdo que busca jogar luz em assuntos e personagens que tem sua relevância social.
Manter a página no ar e melhora-la é um objetivo constante, algo que buscamos, mesmo que a nosso tempo, fazer sempre. Não gosto de rotular o Parágrafo 2 como jornalismo alternativo ou independente, prefiro pensar nele como um espaço que podemos usar para crescer como profissionais e como pessoas. Um espaço que serve de combustível para manter acessa uma chama que começou em 2008.
Sei que para muitos os ideais do site podem parecer pretensiosos e mesmo utópicos, mas, como dizia Galeano, “a utopia serve para que eu não deixe de caminhar”. Assim, o Parágrafo 2 é, sem sombras de dúvidas, minha utopia diária. A esperança de fazer um jornalismo transformador, que possa contribuir não somente para a vida do leitor, mas para a realidade dos personagens retratados nas matérias.
Talvez, um dia consigamos nos manter financeiramente por meio do site. Talvez um dia possamos nos dedicar somente a ele. Mas enquanto esse dia não chega, ele é, para mim, um mantenedor de ideais, um alívio diante das adversidades, a possibilidade de contribuir para algo maior.
Colunistas e colaboradores
Um dos grandes desafios ao se criar um site é trazer pessoas que agreguem conteúdo de qualidade. Colaboradores que estejam na mesma sintonia e que tenham a certeza de que “formar opinião” é uma responsabilidade muito grande. Mas, tivemos muita sorte nesse quesito. Logo, por meio do Rafael e da Jaque vieram para o site o ilustrador e amante da cultura nerd Idovino Cassol e a também amante de quadrinhos, games e series, Heloise Muchinski. O professor Osni Gustavo Fagundes, o jovem chargista Filipe Alexandre e o hippie Dom Silva, chegaram depois. Em uma noite chuvosa eu e o Mossato conhecemos Andy Jankowski, que começou a escrever crônicas e trouxe com ela o também cronista Kaká Bomfim. Rafael e Jaque trouxeram também o mestrando em geografia e educador Kauê Avanzi e, mais recentemente o historiador e também mestrando Tairon Villi. O estudante de jornalismo Rhangel Ribeiro, o cartunista Adriano Moraes e a professora Irene Irene Grockotzki completaram o time.
Nem todos continuam no Parágrafo 2, mas contribuíram significativamente para a consolidação do site. Trabalharam para compor textos, usaram de seu tempo livre para pensar em algo interessante que levasse os leitores a pensarem. Sonharam, comemoram cada like na página e no texto. Vibraram com comentários e compartilhamentos.
A atuação de cada um me fez ver que um site não é apenas composto por textos, mas também por pessoas. E que o papel de um editor não é apenas o de revisar a produção, mas o de entender e motivar. Gerar motivação, aliás, é um desafio em tanto. Afinal, não temos recursos financeiros e podemos oferecer, aos que participam do site, apenas um espaço para que possam expressar suas ideias. Assim, é mais desafiador manter um colaborador no site, do que conseguir um novo. Ainda somos uma página pequena e a repercussão dos textos, por vezes, é bem menor do que eles merecem. No entanto, por meio de comentários e mensagens enviados por nossos leitores, percebemos que a tarefa de produzir conteúdo informativo e opinativo é de absurda responsabilidade. Alguém sempre vai se identificar com seu texto, alguém sempre vai se informar e formar opinião por meio dele. Portanto, mesmo que eu falhe na tarefa de motivar, há algo maior do que os meus elogios: Há um leitor aguardando por um texto.
Contar com pessoas que se dispõem a abraçar seu sonho é um privilégio. Todos os que participam e já participaram do Parágrafo tem seus trabalhos e projetos pessoais. Mesmo assim dedicam um pouco de seu tempo para o site. E isso me fez ver que os que “compram” suas ideias acabam dando vida a um sonho que não era deles. Nesse primeiro ano de Parágrafo 2 errei profundamente quando ousei tratar as pessoas com textos, elas são muito mais do que isso e cada momento que dedicam para o crescimento do Parágrafo é muito precioso. Portanto, peço desculpas publicamente a Idovino Cassol e Heloise Muchinski por erros que cometi motivado por imaturidade e vaidade.
Mas, além de colunistas e jornalistas o Parágrafo 2 contou com amigos que deram sua contribuição por meio de ideias, comentários ou elogios. Correndo o risco de ser injusto ouso aqui citar o nome de todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente com o site: Alejandro Mercado, Maura Martins e todos os amigos do site “A Escotilha”; as amigas Ana Paula Melo, Larissa Ilaides, Lilian da Cruz, Franciele Costa; os amigos Robson Rocha, Fabiano Mossato, Wellington Mossato, Guilherme Giorgio, Edmarilson Rodrigues, Alan Patrick, Alexsander Machado, meu irmão Marcos Aurélio Pires, meus outros irmãos, minhas irmãs, sobrinhos e sobrinhas. A lista é grande e certamente esqueci algumas pessoas.
E, é claro, o agradecimento especial é para o leitor que dedica seu tempo a ler os escritos de um grupo de sonhadores. Chegamos ao nosso primeiro ano de vida e como uma criança que começa a andar, queremos ganhar o mundo. Pretenciosos talvez, ingênuos provavelmente, utópicos na maioria das vezes, mas buscando fugir do óbvio sempre.