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Coletivo das Culturas – Um caldeirão étnico/cultural a caminho da Assembleia Legislativa do Paraná

Desde 1994 existem candidaturas coletivas no Brasil, mas elas ganharam força mesmo a partir de 2018. Levantamento feito pela Frente Nacional de Mandatas e Mandatos Coletivos, entre 2018 e 2020, revela que foram registradas 28 candidaturas coletivas eleitas em todo o país, uma para a Assembleia Legislativa em Pernambuco, outra em São Paulo e 26 para câmaras municipais.

Nas eleições de 2020, 250 coletivos foram lançados para disputar o cargo de vereador. Já em 2022, 213 candidaturas coletivas ao Legislativo foram registradas. Elas estão espalhadas em todas as regiões do Brasil e concentram-se em partidos progressistas com forte participação do PSOL, do PT e do PC do B. Entre os titulares (o nome que aparece nas urnas) há mais mulheres e pessoas autodeclaradas pretas do que a média nacional, o que reforça a percepção de que podem facilitar a inserção de grupos com difícil entrada na política

No Paraná, existem 21 candidaturas coletivas, 09 para deputado federal, 11 para deputado estadual e 01 para o senado. Uma delas, e que busca uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), é o Coletivo das Culturas, candidatura dos partidos da Federação Brasil da Esperança (PCdoB, PT e PV) e que pretende destacar a Cultura como setor relevante da economia e fortalecer as identidades culturais paranaenses na Alep.

O grupo é extremamente diversificado. É composto por um músico, um produtor cultural, um documentarista, uma indígena, uma quilombola, um angolano, um escritor, um terapeuta integrativo e um ator.

São nove co-candidatos e co-candidatas. Angelo Stroparo é nome que vai nas urnas, o famoso “cabeça de chapa”. Mas todos os participantes, em caso de vitória no dia 02 de outubro, integrarão o gabinete do mandato e tomarão decisões em conjunto.

Da esquerda para a direita: Leonardo (que é um colaborador do Coletivo) Angelo, Otavio, Jacob, Getulio, Silmara, Camila e Diego na noite que marcou o lançamento da pré-candidatura no 92 Graus Pub, em Curitiba. Foto: Douglas Fróis.

O caldeirão étnico/racial que compõe o Coletivo da Cultura começou a ser gestado quando Angelo migrou, em busca de maior visibilidade e oportunidades, do PDT para o PCdoB. No Partido Comunista do Brasil ele foi convidado pra participar de uma candidatura coletiva, também ligada à cultura. Mas queria propor uma que partisse da Região Metropolitana de Curitiba na intenção de descentralizar as políticas culturais que sempre foram focadas na capital.

Depois de muita articulação, os co-candidatos e co-candidatas foram chegando. O Coletivo das Culturas é muito particular, porque envolve uma multiplicidade de pessoas, explica Ângelo. “Nossa pauta é enorme e vai além da cultura. Temos, por exemplo, uma candidata indígena que mostra que nossa pauta vai também para as questões ligadas aos povos originários, para a igualdade de gênero, o empoderamento das mulheres. Também faz parte do coletivo uma negra e quilombola, que expande nossa pauta para a promoção da igualdade racial e comunidades tradicionais”, diz. 

Como será o mandato coletivo

Stroparo explica que todos os co-candidatos vão trabalhar no gabinete e as decisões serão tomadas em conjunto. “Legalmente eu serei o deputado, mas nosso acordo, que será devidamente formalizado mediante declaração com firma reconhecida, garantirá um pacto com a participação de todos os co-candidatos, com igualdade na tomada de decisões e iguais responsabilidades”.

Ângelo será o deputado eleito, os demais co-candidatos atuarão no gabinete contratados por meio das nomeações livres a que um deputado tem direito.

O candidato explica que os participantes do Coletivo das Culturas têm, em seu histórico profissional e pessoal, o trabalho em grupos coletivos e isso é fator determinante para que o mandato tenha sucesso. “Existem muitas iniciativas interessantes em coletivos, no terceiro setor, por exemplo, existe muito disso. Mas todos têm uma organização prévia. O nosso é particular porque ele não nasceu antes, mas como os co-candidatos sempre atuaram em forma coletiva, nas seus respectivos projetos, a ideia de um mandato coletivo foi algo muito fácil de fazer”, ressalta.

O Coletivo é formado por pessoas de diversas áreas da cultura e do social. Foto: Reprodução do Facebook

A ideia de candidatura coletiva, aquela que agrega pessoas de várias áreas e lugares, faz Angelo acreditar que, em médio e longo prazo, a tendência é a de que os coletivos sejam a maioria das candidaturas no campo progressista/democrata. Para ele, os principais fatores que sustentam essa tese é que as candidaturas coletivas facilitam o aumento da representatividade; a não personificação da candidatura; a questão financeira e também as cotas partidárias, já que é mais fácil para os candidatos conseguirem viabilizar sua candidatura.

Quem faz parte do Coletivo das Culturas

Angelo Stroparo, curitibano residente em Piraquara/PR é jornalista, músico (baixista e guitarrista), artesão e produtor cultural. Pai de cinco filhos, nos últimos sete anos, em Piraquara, foi gestor em uma cooperativa de agricultura familiar e economia solidária, diretor de cultura na Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer, conselheiro de meio ambiente, de turismo e agricultura, além de presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais (CMPC).    

Getulio Gerra é Arte-Finalista, Produtor Cultural, Terapeuta Integrativo e estudante de Marketing Digital. Tem a Solt@r – Sala de Artes desde 1999 e atende clientes com criação de logotipos e desenvolvimento de identidade visual.

Vlad Urban, músico, compositor, radialista, produtor cultural reconhecido internacionalmente e um militante em prol da cena autoral curitibana. Integrou bandas importantes como “Os Catalépticos” e, atualmente, Sick Sick Sinners e Partigianos.
Produtor dos festivais Psychobilly Fest, Curitiba Rock Carnival e o Psycho Carnival, um dos principais festivais de psychobilly do mundo, temática que ele levou também para o rádio com o programa Shock Rock na Rádio Mundo Livre FM em Curitiba/PR.

Diego Carvalho é graduando em Mediação Cultural, Artes e Letras na Universidade Federal da Integração Latino Americana – UNILA, Coordenador estadual da União de Negros e Negras pela Igualdade do Paraná e Secretário do Mobilizações da UNALGBT do Paraná.

Rogério Lima, graduado em Letras Português/Inglês pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Comunicador, escritor e editor.
Foi vice-prefeito de Palmeira (1997-2000), quando coordenou o Orçamento Participativo e a elaboração do Plano Municipal de Desenvolvimento Rural, priorizando propostas para a agricultura familiar.  

Jacob Cachinga, imigrante angolano, formado em Educação Física (Uninter) e mestre em Bioética (PUC-PR). Chegou ao Brasil em 2001, com mais 24 crianças e adolescentes cegos de Angola, como refugiado da guerra civil em seu país. Com todas as dificuldades interpostas à vivência de pessoa cega e sem familiares próximos, traçou o objetivo de se tornar professor. Obteve recentemente o título de mestre em bioética com a dissertação “A educação inclusiva à luz da bioética de proteção em Angola”, sobre os tratados internacionais de inclusão em sua terra natal, que infelizmente ainda não se efetivaram.

Silmara Xavier é Presidente da Comunidade Quilombola Família Xavier, Promotora Popular Negra, integrante do Movimento de Mulheres Quilombolas do Paraná, do Conselho da Promoção da Igualdade Racial de Curitiba (COMPIR) e da Diretoria do Instituto Sorriso Negro dos Campos Gerais de Ponta Grossa/PR.

Camila e Silmara. Foto: Otavio Zucon.

Camila Mīg Sá dos Santos, indígena pertencente ao povo Kanhgág, é residente na aldeia Kakané Porã (retomada ainda não homologada e não demarcada, apesar de estar em contexto urbano), graduanda em Ciências Sociais/Licenciatura – UFPR, pesquisadora no projeto de pesquisa e extensão “Ecologia de Saberes” pela UFPR, colaboradora pela Mídia Índia Oficial, etno comunicadora pela Articulação dos Povos Indígenas do Sul e fundadora e uma das coordenadoras do Coletivo Indígena Ga Jãre – Paraná.

Otavio Bob Zucon é historiador, videodocumentarista, professor e discotecário. Foi o primeiro conselheiro eleito do Paraná no CONSEC, atuando no grupo de trabalho de criação do Plano Estadual de Cultura e, neste colegiado, lutando pela interiorização dos recursos do setor. Foi também presidente do Conselho de Políticas Culturais de Campo Largo, auxiliando na construção das políticas municipais de cultura da cidade.

 

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About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.