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Centenas de famílias ocupam terreno às margens da linha férrea no Cajuru

Fotos e entrevistas: Emerson Nogueira

Texto: José Pires

 

Há pouco mais de 40 dias cerca de 150 famílias ocupam um terreno às margens da linha férrea no bairro Cajuru, na divisa entre Curitiba e Pinhais. Quem está organizando a nova ocupação é a Associação de Moradores da Vila Autódromo.

Há anos a Associação pedia à empresa Rumo Logística, operadora de logística ferroviária, a limpeza e asseio do terreno que fica às margens da linha férrea e da Avenida Presidente Affonso Camargo. Como a Rumo não realizava os cuidados necessários, os moradores organizaram mutirões para roçar o local. Quando os representantes da Associação verificaram o registro de posse da área descobriram que parte dela estava em nome da própria Associação. Outro trecho do terreno pertence a uma rádio chamada “Rádio Cruzeiro do Sul de Curitiba”.

Quando as famílias ocuparam o local receberam a visita da Polícia Militar, da Guarda Municipal de representantes da Rumo. Depois que apresentaram documentos mostrando a posse do local participaram de uma reunião com a empresa de logística.

Neemias Portela é o Presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo. Segundo ele, a nova ocupação trará, além do direito à moradia para centenas de famílias, uma revitalização no local que era um conhecido ponto de consumo de drogas. “Nesse local havia uma concentração muito grande de pessoas em situação de rua. Era também um ponto de consumo de drogas. Ninguém da região se sentia seguro em passar por aqui. Uma mulher foi esfaqueada nesse local e muitas pessoas foram roubadas. Ou seja, era muito perigoso e agora essa realidade deve mudar”, afirma.

Neemias Portela – Presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo. Foto: Emerson Nogueira

João Madruga e sua esposa, Marta dos Santos, chegaram na ocupação nos primeiros dias. Ele e a família vivem no Cajuru há 40 anos e apenas agora conseguiram uma casa própria, um pequeno barraco de 2 m x 2 m no terreno ocupado. Para o casal, é um recomeço. “Isso aqui é uma vida nova pra todos nós. É a esperança em dias melhores. Muita gente passa fome porque precisa pagar aluguel, isso é uma realidade. Agora, com essa nova comunidade, as pessoas inclusive vão conseguir se alimentar melhor já que não vão precisar pagar aluguel”, destaca.

João Madruga e sua esposa, Marta dos Santos. Foto: Emerson Nogueira.

Batalha contra um empreendimento bilionário 

O Autódromo Internacional de Curitiba – que fica em Pinhais – encerrará suas atividades em dezembro deste ano. No local, será construído um “bairro-conceito”, misto de imóveis residenciais, comerciais e de lazer. O investimento de R$ 1 bilhão pretende atrair 8 mil moradores, e terá bares, restaurantes, escritórios e lojas, além de um parque nos contornos da atual pista, que será reduzida, mas ainda poderá receber corridas de menor porte.

Segundo Neemias Portela, faz parte do projeto a construção de um viaduto que passará pelo terreno onde hoje se encontra a ocupação iniciada há pouco mais de um mês. É uma batalha que provavelmente será decidida na justiça. Uma luta desigual que, no entanto, não assusta as famílias da nova comunidade. “Não vamos sair, a não ser que sejamos indenizados. Temos a posse da área e pra nos tirar daqui vão ter que desapropriar a área. Sabemos que a luta vai ser grande”, finaliza.

150 vivem na ocupação. Além do direito à moradia a área vai revitalizar o local. Foto: Emerson Nogueira

 

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.