Últimas Notícias
Home » ambiental » Casa de Passagem Indígena está fechada há oito meses em Curitiba

Casa de Passagem Indígena está fechada há oito meses em Curitiba

Por José Pires e Emerson Nogueira

A Casa de Passagem do Indígena em Curitiba (Capai) foi inaugurada em janeiro de 2015 como um espaço destinado ao acolhimento de famílias de indígenas, muitas delas com crianças e adolescentes, que se encontravam em situação de rua e que vinham à capital paranaense para venda de artesanato. Inaugurada em caráter emergencial, depois de iniciativa promovida pelo Ministério Público do Paraná, o local foi cedido pela prefeitura de Curitiba e durante anos funcionou na Praça Plínio Tourinho, no Bairro Jardim Botânico.

No entanto, no mês de março deste ano, com o começo da pandemia e a necessidade do isolamento social, as famílias indígenas que vinham de outras cidades e estados vender artesanato em Curitiba voltaram para suas aldeias. Com isso a Casa de Passagem do Indígena teve queda no número de usuários e o risco de contágio demandou a suspensão temporária dos atendimentos. No dia 20 de março a prefeitura de Curitiba realocou a Capai para um imóvel no bairro Cajuru. Dois dias depois o local deixou de fornecer qualquer tipo de atendimento a indígenas. As informações são de uma educadora social que trabalhou na Casa durante três anos. “A promessa era que o fechamento seria temporário e assim que os indígenas voltassem para vender artesanato um imóvel na região central seria destinado para a Capai”, diz a educadora. 

Sede da Casa de Passagem está fechada desde março. Foto de Emerson Nogueira

Porém, quase oito meses depois do fechamento da Casa, as famílias indígenas voltaram para o Centro de Curitiba para vender artesanato – renda primordial para sua sobrevivência – e a Casa de Passagem não foi reaberta.

Antes da abertura da Capai era comum ver famílias indígenas em situação de rua no centro da cidade. Dezenas se abrigavam sob o Viaduto do Capanema onde ficavam expostos ao frio e a violência.  

Eliseu Loureiro e sua esposa Patrícia são Kaingangs. Eles vivem na Reserva Indígena de Nonoai no Rio Grande do Sul. Desde setembro estão em Curitiba vendendo artesanato. O casal veio com os filhos e, para não dormir na rua, precisou alugar uma casa pela qual pagam R$ 840 por mês. Na mesma casa hoje estão três famílias indígenas nas quais existem cinco crianças. Eliseu afirma que quando chegaram em Curitiba procuraram a Casa de Passagem. “Ela estava fechada, aí ligamos para o telefone da Casa e quem atendeu disse que talvez a casa não seja mais aberta”, revela.

Patrícia e seu filho. Família veio para Curitiba no mês de setembro e precisou alugar uma casa para não ficar na rua. Foto de Emerson Nogueira

Eliseu e os demais indígenas precisam usar boa parte do que ganham com a venda de artesanato para custear o aluguel e comprar alimento. “Está muito difícil, porque não sobra quase nada do dinheiro das vendas de artesanato. Entre aluguel e alimentação gastamos mais de R$ 1,000 por mês”, reclama. Ele e as outras famílias pretendem ficar até o final do ano em Curitiba e, além deles, a capital deve receber muitas outras vindas do interior do Paraná e dos estados vizinhos.

O que diz a prefeitura

Questionada pelo Parágrafo 2 sobre quando a Casa de Passagem do Indígena será reaberta e onde ela funcionará, a Fundação de Ação Social (FAS) da prefeitura de Curitiba respondeu com a seguinte nota:

 Em função da pandemia da covid-19, os indígenas que vinham a Curitiba para a venda de artesanato deixaram a cidade. 

Em 20 de março, a Fundação de Ação Social (FAS) garantiu o retorno de 65 índios para suas aldeias. O grupo estava abrigado na Casa de Passagem Indígina (Capai) – unidade mantida pelo município para atender essa população.

O embarque dos indígenas atendeu pedidos dos caciques das aldeias Rio das Cobras, localizada no município de Nova Laranjeiras, e Ivaí, em Manoel Ribas, que ficam nas regiões centro-sul e centro-norte do Estado, respectivamente. Mesmo antes da pandemia, a vinda de indígenas para Curitiba dependia, na maioria das vezes, de autorização dos caciques, que faziam o controle de fluxo.

Com a desocupação da unidade e também com o reordenamento de serviços, necessário durante a pandemia, a FAS passou a usar o espaço – que funcionava na Praça Plínio Tourinho – para o atendimento à população em situação de rua, grupo mais vulnerável ao novo coronavírus.

Em entendimento do município e dos caciques, ficou acordado que enquanto perdurar a pandemia, os indígenas não retornariam a Curitiba e que o serviço será reavaliado, conforme orientação da Vigilância Sanitária do município”.

As famílias indígenas que estão em Curitiba vendendo artesanato precisam de ajuda. Doações de alimentos são muito importantes. Para doar você pode entrar em contato com o Jonatas no telefone (whatsapp) (41) 99883-7618.

 

 

About José Pires

É Jornalista e editor do Parágrafo 2. Cobre temas ligados à luta indígena; meio ambiente; luta por moradia; realidade de imigrantes; educação; política e cultura. É assessor de imprensa do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana - SINPES e como freelancer produz conteúdo para outros veículos de jornalismo independente.