Coluna: Filosofia Di vina
A situação é emergencial. Como pensar um país prestes a explodir? O preço altíssimo do golpe de 2016 fica mais evidente a cada dia. A parte mais abominável da elite que assumiu o poder mostra que este é o início de um tenebroso tempo. Nas vexantes passeatas, o pato da FIESP dava o tom do figurino, pela cor e pela simbologia do animal era gritante a “patologia” endêmica que cegava as multidões.
O país então caiu nas mãos de uma perigosa organização constituída pelo que há de mais horrendo e brutal em termos de gestão e políticas públicas. Alguns meses depois, os distúrbios sociais começam: primeiro nas escolas, depois com servidores, categorias inteiras sendo prejudicadas. A polícia capixaba mostra que, ao menos em parte, a PM é que faz as políticas serem implementadas, com o velho vocabulário do cassetete, bomba de gás e bala de borracha. Sem os militares os governos não podem simplesmente empurrar goela a baixo suas PECS e MPS, sem eles para espancar os contestadores a coisa não funciona. Uma república arraigada no militarismo é altamente dependente de suas forças de coerção.
Como pólvora, a manifestação (rara) da polícia do Espirito Santo vai chegando aos quartéis de todo o país. E se os militares entrarem para o lado dos manifestantes nos próximos distúrbios sociais? E se o governo perceber que é um erro estratégico isolar a PM e dar engodos para ter novamente a polícia do seu lado? São perguntas sem respostas em um país a um passo da convulsão social. A pobreza se multiplicando, a concentração de renda cada dia mais acentuada mostram que o que se começou em 2016 está longe de ser estancado.
As delações serviram para destruir a já cansada imagem do PT, a mídia faz o jargão: “É corrupto, é do PT”. Com o PT fora de cena, os corruptos de sempre não conseguiram se livrar ainda desta perigosa ferramenta chamada Lava-Jato. Na tentativa de livrar a si mesmo e seus comparsas, o vampiresco Temer faz manobras que respigam por todo o país e as gotas de sangue que ele não suga secam nas esquinas dos bairros pobres, com os índices de violência batendo recorde, um só gatilho, que muitos dedos puxam.
Um dos últimos redutos de resistência, a escola pública, teve seu fim decretado a punhaladas de senadores que votaram a favor de uma M.P. por medo de ficar fora do pacto de salvação da quadrilha, com nomeações que deixam envergonhado até o mais amarelo dos patos da Paulista.
O fim do ensino médio faz parte de um pacto de privatização e precarização bem maiores, nesta esteira o brasileiro não perde somente sua já precária escola, perde também seus direitos mais básicos, como aposentadoria e direitos trabalhistas.
A porta do inferno foi aberta e o mais santo a sair dela com certeza seria o próprio diabo, que daria uma boa gargalhada ao ouvir a frase de que “Deus é brasileiro” em um cenário como este, um cenário em que o presidente, aposentado aos cinquenta anos, exige que os trabalhadores tenham de contribuição aquilo que ele tinha de idade quando pendurou a mandíbula, digo, as chuteiras.
De onde vem este circo de horrores? Tragicamente do voto dos mesmos brasileiros que pagam com suor ou sangue esta conta injusta, de brasileiros que respondem o “boa noite” do garoto propaganda do golpe expondo um riso irônico no Jornal Nacional, de brasileiros que confundiram patriotismo com idiotismo, fazendo a dancinha do impeachment e hoje ainda não perceberam mas suas caras já pintadas estão prontas para receber o nariz vermelho.