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As cidades e os jovens

Coluna Versando 

As cidades precisam perceber os jovens e estes precisam sentir-se parte das cidades. Observa-se um grande distanciamento dos jovens em relação à cidade como um todo. Para alguns ela é vista mais como inimiga do que amiga e o contrario também é verdadeiro. Falta participação efetiva da juventude nos rumos que a cidade deve seguir.

Poucos são os lugares que acolhem os jovens com sua graça e vitalidade. Mínimos são os espaços onde ele tem a oportunidade de desenvolver seus talentos e sua criatividade. Não percebe a cidade que tolhendo a juventude, ela tolhe a si mesma, pois os jovens são a energia renovada que precisa ser canalizada para o desenvolvimento saudável de uma comunidade.

Tem se observado nas ruas e esquinas, muitos grupos de jovens e quando perguntados o que fazem ali, respondem que não tem o que fazer e se reúnem para conversar. Muitos gostariam de estar trabalhando, mas não conseguem se encaixar num emprego por motivos os mais variados. Outros estão sem estudar porque o ambiente escolar não os atrai e é desestimulante para alguns, que não veem utilidade para o que é estudado e trabalhado nas escolas.

Muito se tem falado em políticas públicas para os jovens, mas pouco tem se implementado. Uma das causas para a não implementação dessas políticas públicas é a falta de organização dos próprios jovens. As escolas e universidades que poderiam ser os espaços de incentivo à organização juvenil, através de grêmios e outros grupos, estão hoje muito acanhadas nas conversas e ações nesse sentido.

Alguns, sentem-se como peixes fora d’água. Os que sonham não conseguem realizar porque falta estudo, dinheiro, espaço, incentivo, acolhimento às suas ideias.  Querem trabalhar, mas não querem ser escravos do trabalho e o mercado de trabalho não está preparado para esta nova geração, que tem um ritmo diferente daquele a que as empresas estão organizadas.

A própria vida nas cidades com seu trânsito congestionado, transportes coletivos saturados e falta de incentivo a outros meios de mobilidade, acaba estressando o jovem que se vê obrigado a cumprir horários, quando na verdade deveria ser cobrado e incentivado  a desenvolver suas habilidades para ajudar no cumprimento de algumas metas dentro de empresas, e horários quando necessário em alguns serviços, como os que se destinam ao atendimento de outras pessoas. As tarefas maçantes, repetitivas e burocráticas extenuam em pouco tempo o jovem dos dias atuais, que é adepto à tecnologia e ao mundo virtual.

As cidades e as sociedades estão passando por novas configurações muito rapidamente, mas os que detêm os meios de produção e poder nas cidades, ainda engatinham na introdução de novas formas de organização em seus ambientes de trabalho. Vive-se o conflito do desenvolvimento tecnológico com o arcaico da organização e relações de trabalho. Para alguns jovens, os mais críticos e antenados, trabalhar não é ser escravo de rotinas e horários, mas sim ter oportunidade de desenvolver suas habilidades e ser reconhecido por isso.

Apesar do predomínio das tecnologias e relações virtuais na vida de muitos jovens, eles estão também propensos à solidariedade humana e com a natureza, à criatividade e inovação. Para acolher esse dinamismo e protagonismo juvenil, as comunidades e as administrações das cidades, precisam abrir espaços para a participação efetiva dos jovens. E a cidade como um todo precisa enfrentar esse desafio relevante, que é acolher e deixar-se modificar pela presença e atuação cada vez maior da juventude nas decisões e rumos que ela deve seguir.

 

About Irene Grockotzki

Professora Irene Grockotzki é professora de Geografia, formada pela UFPR trabalha na rede estadual de ensino há 27 anos.