Por Mário Costa
Ah! O tempo que jogava bola pelos campos de areia da Barreirinha a perna de pau e a habilidade reduzida de quem nunca chegou à várzea e muito menos aos gramados. Corria como piá de rua, camisa rasgada, descalço esfolando os pés no chão duro e batido, a cabeleira rugia esvoaçada, tinha a irresponsabilidade como companheira, comida quente da mamãe e conforto das tardes deitado no sofá da sala, Choco Milk, pipoca e sessão da tarde.
As maravilhas do tempo sobre nós grãos de areia sobre a terra. Hoje, mal durmo as noites, não tenho o mesmo interesse pelas cabrochas e os boletos chegam como o inverno oscilante e voam como passarinhos sorrateiros na janela empoeirada. Arroubos de humor e, frequentemente, irritações. Já fui mais vezes ao médico que ao cinema, algumas dores nas pernas, barriga crescendo e cabelos saltitando da cabeça sem o menor interesse de voltar e aquela ressaca de três dias.
Ah! Que saudade!
Já fui Ligeirinho, opulento como Expresso, articulado, charmoso e não poluente como Interbairros I, deixei amigos importantes e competentes pelo caminho o sagaz Fazendinha/Tamandaré, o interligado Barreirinha/São José, Araucária, Campo Largo, já fui exemplo para a família e os países vizinhos, mas outros tempos de gente que pensava pra frente de trânsito livre de ideias.
Aaah! Que saudade!
Vivo enlatado no Inter 2, atrasado como sempre, e, as ruas esburacadas são asfalto liso e revigorado para observar de pé, suado e parado o trânsito, mas vejo de cima, sobre os carros a vidros fechados e ar condicionado, a paisagem da capital que foi considera a capital ecológica, Ah! que saudade do verde que trazia esperança, onde estará? Talvez, esperando o reforço Cabral/Capão Raso.
Não me furto de dividir este caminho de pedras com outros companheiros, a efêmera e deliciosa recompensa que apenas a dignidade do trabalho nós traz, ir para casa com o trajeto de apenas 01h00, arredonde para mais e acrescente uns 10min. Se a porta não travar e o elevador para cadeirantes não estiver quebrado, nem com uma bela dentadura de Ligeirão Sta. Cândida/Praça do Japão é possível sorrir para esta situação banguela. Nos resta o clamor, a oração e a batalha dos Agourentos pela mobilidade alternativa.
Sinto-me envelhecendo como o transporte coletivo de Curitiba que atrasa, quebra, anda devagar, reduz trajetos e aumenta tempos, onera a mais de 700 mil curitibanos por dia R$ 4,25 por míseros R$ 2.275.000,00, multiplique por dois, ida e volta, multiplique por 30 dias, multiplique, multiplique, Senhor!!! Senhor da Glória, Cristo Redentor, Marechal dos exércitos coletivos tenha pena de nós cidadãos da Barreirinha, Boqueirão, da Região Metropolitana, reduz o nosso calvário por está senda. Distante dos vastos vales, dos prolíficos e das moradias com vistosos alpendres, abre os caminhos e não chão dos vossos Biarticulados, não nos deixe.
Curitiba vive a duras penas das glórias do passado, de títulos antigos como a cidade inovadora, capital ecológica, por seu eficiente e pioneiro sistema de coleta e separação de resíduos, exemplo de transporte para cidades na América Latina e do Norte, porém, não apresenta propostas inovadoras para a população, com medidas impopulares sem o menor zelo pelo trabalhador curitibano.
Acuada na trincheira das poucas ideias, vive de rodeios, sem ações eficientes, altera horários de creches e postos de saúde com equipamentos velhos e sem manutenção, terceiriza Unidades de Pronto Atendimento, corta linhas de ônibus e não resolve o elefante branco chamado Linha Verde, com o mesmo número de comissionados do, ex-prefeito, Gustavo Fruet e pagando bem mais. A Curitiba que olha pelo retrovisor os grandes feitos.
Ah! Que saudade! Ah! Que saudade do tempo que as coisas andavam no tempo, no tempo das coisas.