*Ilustração: Salvador Dalí – “Criança Geopolítica Observando o Nascimento do Homem Novo”.
Coluna Encantamentos Poéticos
Reflexões em Tempos de Pandemia
Por Camila Grassi
O que vc deseja para a vida? Do trabalho que realiza ou que deseja realizar algum dia? Das amizades e das relações afetivas que constrói?
Num mundo cada vez mais repleto de incertezas, somos levados a agir, produzindo nas relações, um campo de descartabilidade e incertezas.
Mas, apesar da materialidade que nos empurra para um abismo incerto, é preciso que lembremos, enquanto ato de resistência que persevera vida, sobre o que haveremos de nos tornar com aquilo que praticamos no presente.
Quanto mais humanizadora for a forma como nos relacionamos com nossos pares, quanto mais profunda forem nossas teias, mais potência teremos para mudar o que acreditamos ser preciso mudar, porque nada em nível de sociedade, pode ser mudado pela ação pura e individual de uma célula isolada.
Se nós nos tornamos aquilo que praticamos, se faz importante tanto olharmos para as nossas práticas como elencar aquelas que nos levarão a aquilo que de fato desejamos nos tornar.
Quanto menos ferramentas de conhecimento e reflexão temos para pensar sobre nossas práticas, nos tornamos menos capazes de assumir o papel de sujeitos produtores de história e de cultura como nos pontuou Paulo Freire e mais tendemos a assimilar a vida reproduzindo a realidade como fato dado.
Resistir a aquilo que torna a vida desumanizada, é antes disso, constituir práticas criadoras de humanização.
O banimento do passado prescinde a produção do futuro desejado no caminhar do presente.
Aquilo que nos tornarmos para nós e para aqueles que andam conosco, também fará parte dos muitos mundos que habitamos e daqueles mundos que haveremos de construir e habitar um dia.