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A lata de lixo da história começa a transbordar

Coluna Filosofia di Vina

A pedra angular da filosofia é o questionamento, a crítica radical e imanente é seu espírito.

No Brasil, os fatos acontecem em turbilhão, o cronista mal dá conta de analisar a todos. No entanto, por mais que a orquestra pareça desafinada, a pauta ainda é a mesma.

Formular questões é a habilidade fundamental de qualquer um que queira se iniciar na filosofia, aqui, em terras brasileiras, as questões brotam à flor da terra. No resumo das semanas, o cenário político expõe a luta interna entre blocos de oligarcas antigos contra os oligarcas em ascensão.

Os oligarcas da velha guarda começam a perder espaço para os ascendentes, estes mais jovens vêm armados de power point, mandados de prisão e muitos holofotes.

Surge aqui a primeira questão:

Por que a turma da Lava-Jato – na figura de Marcelo Bretas, aliado e amigo Wilson Witzel – decreta a prisão de Temer para soltá-lo depois?
Temer, um dos piores presidentes da história republicada do Brasil, que agora disputa este cargo com Bolsonaro, é cachorro morto. Não houve nenhuma comoção social, o grande inimigo do povo agora atrás das grades. As ruas dão graças à Lava- Jato, as mesmas ruas que não somaram cem pessoas nos atos em apoio à investigação poucos dias atrás. Michel Temer e Beto Richa são exemplos de figuras do velho bloco, que agora cambaleia para ascensão dos novos quadros, mais famintos de poder e muito interessados nos 2,5 bilhões da Petrobrás.

Transbordando

As tensões internas do “governo” são fraturas expostas que sangram em praça pública. A ala dos militares, o partido da Lava-jato e a bancada evangélica não se entendem, pouco têm em comum, a não ser o discurso neoliberal e o coração envolto em uma bandeira de listras vermelha e branca.

A tragédia anunciada no MEC é amostra grátis do grande abismo no qual o país mergulhou, o Escola Sem Partido se revela como o Escola Sem Projeto, enquanto a farsa do MBL se concentra na produção de “memes” para entretenimento dos seus pares, tudo, é claro, pago com dinheiro público.

As questões que envolvem a relação constrangedora entre o presidente, sua família e os milicianos é ainda mais tenebrosa: fotos, homenagens, emprego, namoros, vizinhança e churrasco estão no trágico álbum das vergonhas nacionais.

Evidentemente, as vergonhas não se limitam à nossa cozinha, a síndrome de cadela sarnenta volta com tudo e nos coloca em um lugar de destaque no capacho internacional, a submissão aos E.U.A ultrapassa os limites do ridículo. Se antes nos contentávamos com as migalhas do capital internacional, hoje abrimos mão delas e nos contentamos com prazer de servir aos ricos.

Na década de 1970, o sempre lúcido Roberto Schwarz publicou “A lata de lixo da história”, em ritmo de sátira ao A.I.5, parodiando “O alienista”, de Machado de Assis. No livro de Schwarz, Bacamarte é incentivado pelos “notáveis” a prender os “indesejáveis”, em pouco tempo Bacamarte ganha tanto poder, que começa uma investida contra os próprios notáveis, que eram os representantes da elite. Há quarenta e dois anos, Schwarz, mirando na ditadura, acerta a Lava-jato. A história é parecida, a direita com a intenção de destruir a esquerda enche de poder os Chicago Boys de Curitiba, agora que o monstro está grande demais, tentam desesperadamente contê-lo. Será tarde?

O brasileiro amarga a estatística dos 13 milhões de desempregados, porém, não deve ter surpresa: as ligações mal explicadas de Bolsonaro com as milícias, a reforma da previdência, o sumiço do Queiroz, a comemoração da ditadura, o elogio aos ditadores sulamericanos, a humilhação internacional na Casa Branca, a destruição do MEC não são nada mais do que o óbvio, que o previsto. Não há enganos, Bolsonaro nunca teve nenhum projeto para o país. Duramente, o país vai percebendo que “Brasil acima de tudo” não passa de um slogan vazio de uma campanha oca, uma mera cópia barata da Alemanha nazista, uma franquia pobre do “Alemanha acima de tudo” (Deutschland über alles).

No país onde a popularidade do presidente cai assim como as expectativas do brasileiro, sobem os preços, o dólar e a pobreza. Enquanto se diminuem os direitos dos trabalhadores, aumentam-se os dejetos na lata de lixo da história, uma lata prestes a transbordar como uma represa da Vale e manchar para sempre de lama, o que ousamos, um dia chamar de país.

 

About Rafael Pires de Mello

Rafael Pires de Mello é formado em filosofia pela UFPR, gosta de inutensílios como cinema,literatura,música e é claro o maior de todos, filosofia. Tem a tendência de chorar com música romântica quando bebe demais.