Coluna: Autofagia
A educação a distância no Brasil, especialmente as licenciaturas, é uma manobra capitalista com o intuito de superficializar o conhecimento, impedir o desenvolvimento da visão crítica e inferiorizar a profissão de professor.
Há registros dos primeiros cursos a distância no ano de 1904, por meio de anúncios do Jornal do Brasil. Na década de 1920, os cursos já eram realizados por ondas de rádio. Entre 1940 e 1950 surgiriam os primeiros cursos voltados à profissionalização ministrados pela Universidade do Ar com apoio do SESC e do SENAC.
No auge da ditadura militar, em meados de 1960 e 1970, surgiram os primeiros cursos superiores EAD. Já nos anos de 1980 e 1990 estes cursos passaram a ser televisionados. No entanto, só em 1998 o ensino a distância foi oficialmente instituído, com sua inserção na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação).
Mesmo com um histórico quase secular, o ensino a distância parece novo aos brasileiros. Foi durante o governo Lula e, ampliado durante o governo Dilma, que esta modalidade de ensino ganhou notoriedade e adesão.
Agora, neste momento em que vivemos, o ensino a distância pode ser considerado uma política de dedução eficaz ou é apenas um meio para manipular números e a sociedade?
Indubitavelmente, o ensino a distância democratizou, de certa forma, o acesso à educação superior. Todavia, não podemos fechar os olhos para a realidade em que se encontra.
Com intuito de lucrar cada vez mais, as garras capitalistas têm violentado esta modalidade, oferecendo cursos com níveis de qualidade discutíveis. Não há, em sua maior parte, um apreço pela qualidade do ensino.
Cursos voltados à segunda graduação, em sua maioria licenciaturas, são um escárnio à visão acadêmica, científica e crítica. Muitos alunos, na ânsia de ampliar suas rendas, estão adentrando um campo absolutamente desconhecido: a educação básica.
Professores responsáveis pela alfabetização das nossas crianças são incapazes de escrever e interpretar textos adequadamente, como aponta uma pesquisa da FGV com estudantes do oitavo período do curso de pedagogia da USP, a melhor universidade do Brasil.
A ideia de ‘democratização’ do ensino superior, idealizada pelos governos petistas, é louvável. Entretanto, em algum momento deu-se mais importância ao acesso à universidade – lucro – do que a qualidade do ensino ofertado. O ensino a distância deveria ser um meio de inclusão social, de combate à desigualdade; não um campo de lucro como vemos hoje.